A decisão de iniciar a terapia de casal foi tomada. O primeiro passo, muitas vezes o mais difícil, foi dado. Agora, uma nova fase se inicia, repleta de dúvidas e expectativas. O que realmente acontece a portas fechadas no consultório do terapeuta? Como serão as sessões? Qual será o papel do profissional? Compreender o processo terapêutico pode aliviar a ansiedade e ajudar o casal a aproveitar ao máximo essa oportunidade de crescimento.
Este artigo serve como um guia detalhado sobre o que esperar nas sessões de terapia de casal, desde o primeiro encontro até o desenvolvimento do trabalho terapêutico, explorando diferentes abordagens e o papel fundamental de cada participante nesse processo de reconstrução.
A Primeira Sessão: Estabelecendo a Base
A primeira sessão é, fundamentalmente, uma consulta de avaliação. O principal objetivo é que o casal conheça o terapeuta e seu método de trabalho, e que o terapeuta comece a entender a dinâmica do casal e os problemas que os levaram até ali. É um momento de construção de aliança terapêutica, um vínculo de confiança entre o casal e o profissional.
Normalmente, o terapeuta iniciará a conversa pedindo que cada um, individualmente, explique o que os motivou a buscar ajuda e quais são suas expectativas em relação à terapia. Perguntas comuns incluem:
- “Como vocês se conheceram?”
- “O que vocês admiram um no outro?”
- “Quando os problemas começaram a surgir?”
- “O que vocês já tentaram fazer para resolver essas questões?”
- “Qual é o objetivo de vocês ao fazer terapia?”
É importante notar que o terapeuta não tomará partido. Sua função é ouvir ambas as perspectivas com imparcialidade e empatia. Ele observará não apenas o que é dito, mas como é dito: a linguagem corporal, o tom de voz e a forma como o casal interage durante a sessão. Ao final deste primeiro encontro, o terapeuta geralmente explica sua abordagem, estabelece as “regras” da terapia (como confidencialidade, respeito mútuo e a importância de não interromper o outro) e define, em conjunto com o casal, os objetivos iniciais do tratamento. Alguns terapeutas podem optar por ter uma sessão individual com cada parceiro após o primeiro encontro conjunto, para permitir que cada um se expresse com mais liberdade sobre suas preocupações pessoais.
O Coração da Terapia: As Sessões Seguintes
Com a base estabelecida, as sessões subsequentes mergulham mais fundo nas questões do casal. O foco se desloca da simples descrição dos problemas para a identificação dos padrões disfuncionais que os perpetuam. É aqui que o trabalho de transformação realmente acontece.
1. Identificação de Padrões Destrutivos: O terapeuta ajudará o casal a enxergar os ciclos negativos de interação nos quais estão presos. Um exemplo clássico é o padrão “ataque-defesa”: um parceiro faz uma crítica (ataque), e o outro, sentindo-se atacado, responde com justificativas ou contra-ataques (defesa), levando a uma escalada do conflito. Identificar esses padrões é o primeiro passo para mudá-los.
2. Melhoria da Comunicação: Grande parte da terapia de casal é dedicada a ensinar novas habilidades de comunicação. Isso inclui:
- Escuta Ativa: Aprender a ouvir para compreender, em vez de ouvir para responder. Isso envolve prestar atenção total ao parceiro, validar seus sentimentos e refletir sobre o que foi dito para garantir o entendimento.
- Comunicação Não-Violenta (CNV): Aprender a expressar sentimentos e necessidades de forma clara e respeitosa, usando frases na primeira pessoa (“Eu sinto…”) em vez de acusações (“Você sempre…”).
- Tempo para Conversar (Timing): Aprender a escolher o momento e o lugar certos para discutir assuntos sensíveis, evitando conversas difíceis quando ambos estão cansados ou estressados.
3. Exploração das Raízes dos Conflitos: Muitas vezes, os conflitos superficiais (como a toalha molhada na cama) são sintomas de questões mais profundas não resolvidas. O terapeuta pode guiar o casal a explorar suas histórias de vida, suas famílias de origem e suas “bagagens” emocionais. Entender como as experiências passadas moldam as expectativas e reações no presente pode gerar uma imensa empatia e compreensão mútua.
4. Reconstrução da Conexão Emocional e da Intimidade: A terapia cria oportunidades para o casal se reconectar em um nível mais profundo. O terapeuta pode sugerir “tarefas de casa”, como agendar um encontro semanal, praticar exercícios de apreciação ou reservar um tempo diário para conversar sem distrações. O objetivo é reavivar a amizade, o carinho e o romance que podem ter se perdido na rotina e nos conflitos.
Diferentes Abordagens Terapêuticas
Existem várias abordagens eficazes na terapia de casal. Um bom terapeuta muitas vezes integra elementos de diferentes modelos, adaptando-os às necessidades específicas do casal. Duas das mais renomadas são:
- Método Gottman: Desenvolvido pelos Drs. John e Julie Gottman após décadas de pesquisa com milhares de casais. Esta abordagem foca em elementos práticos para construir uma “Casa do Relacionamento Sólida”. Ensina a gerenciar conflitos, aprofundar a amizade e a admiração, e criar um sistema de significados compartilhados. Foca-se em desarmar a comunicação verbal conflituosa e aumentar a intimidade, o respeito e o afeto.
- Terapia Focada nas Emoções (EFT – Emotionally Focused Therapy): Desenvolvida pela Dra. Sue Johnson, a EFT é baseada na teoria do apego. A premissa é que os conflitos entre os casais surgem de medos e necessidades de apego não atendidos. A EFT ajuda os parceiros a identificar e expressar suas emoções mais profundas (como o medo da rejeição ou do abandono) de uma forma que aproxima o casal, em vez de afastá-lo. O objetivo é criar um vínculo de apego seguro e responsivo.
O processo terapêutico não é linear. Haverá sessões difíceis e emocionantes, e outras de grande avanço e conexão. A chave é o compromisso de ambos os parceiros com o processo, a honestidade consigo mesmos e com o outro, e a disposição para tentar novas formas de ser e de se relacionar. A terapia de casal é uma jornada colaborativa, e o destino final é um relacionamento mais consciente, resiliente e amoroso.